Arquitetura hostil a moradores de rua e campanhas contra doação de esmolas se espalham pelo país e viram tema de projeto de lei discutido no Congresso Nacional, que leva o nome do religioso paulista.
Por Cíntia Acayaba e Rodrigo Rodrigues, g1 SP — São Paulo
A aracnofobia e a homofobia dão nome a medos e ódios muito difundidos na história da humanidade. A aversão à pobreza também é histórica, mas só ganhou nome próprio há cerca 20 anos. De origem grega, a aporofobia se refere ao medo e à rejeição aos pobres.
A palavra passou a ser difundida recentemente no Brasil com uma campanha do padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, de São Paulo, contra as cidades que a praticam. Ele conta que recebeu centenas de imagens de aporofobia no país.
Um cartaz da Prefeitura de Pato de Minas, por exemplo, em que se lê “Não dê esmola, dê cidadania” , levou uma tarja preta do padre Júlio: aporofobia. Foto de grades rentes a um imóvel comercial em Salvador, na Bahia, para impedir a dormida de moradores de rua, também foi marcada com a tarja pelo religioso. Bem como a imagem de um viaduto com pedras em Santo André, no ABC Paulista.
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Padre Júlio Lancellotti removeu pedras sob um dos viadutos de SP. — Foto: Vivian Reis/G1
Em fevereiro, padre Júlio marretou os blocos de paralelepípedos instalados pela gestão do então prefeito Bruno Covas (PSDB) na parte inferior de viadutos na Zona Leste da capital.
Por isso e por toda a luta ao lado dos pobres em São Paulo, um projeto de lei que proíbe técnicas de construção hostil e restringe o uso do espaço público leva o seu nome. A Comissão de Desenvolvimento Urbano, da Câmara dos Deputados, aprovou em, novembro, o projeto de lei “Padre Júlio Lancellotti”.
O texto ainda precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e pelo plenário para ser aprovado.