“Quando a cultura segue viva” por Rosildo Barcellos
Para festejar o Dia do Povo Cigano, celebrado em 24 de maio, em diversos lugares do município foram promovidas Festas em homenagem a Santa Sara Kali. O Dia Municipal do Povo Cigano entrou para o Calendário Oficial de Eventos da capital no ano de 2020, através da Lei nº 9.892/20, reconhecendo a contribuição da etnia cigana para o desenvolvimento da cultura campo-grandense.
Estive presente ano passado em um evento da Academia Internacional de Letras e Artes Romani (AILA), única Academia de Letras Cigana reconhecida em 75 países, sediada no Mato Grosso do Sul realizou a diplomação como membro integrante da academia, o escritor cigano carioca Marcelo Rates Quaranta. Nesta ocasião, reconhecendo e honrando o seu talento e contribuição para as letras e artes romani; sendo recebido pelo seu Presidente Pedro Nicolich. Ao seu lado encontrei Nuno Baez natural de Natal (RN), Baez canta profissionalmente desde os 13 anos. Iniciou sua trajetória na cidade de São Paulo, em apresentações no Terraço Itália. Dos 24 aos 30 anos morou na Espanha, na França, Itália e Portugal, período em que pesquisou a cultura e a musicalidade desses países, em especial o flamenco. Veio para o Mato Grosso do Sul em 2004. Em Campo Grande vivem algumas centenas de pessoas ciganas, representadas por grupos diversos tais como: Calón, Horahano, Kalderash e Matchwani.
No Brasil, a identidade desses povos é baseada na autodeclaração (e é ela que vale no atendimento no SUS). Entre as comunidades ciganas, também é necessário o reconhecimento dos membros. De toda forma, não se trata de um estilo de vida, e sim de um pertencimento étnico e cultural. Na prática, isso significa que eles não precisam se vestir ou se caracterizar de um jeito específico para serem ciganos/romani. A Portaria n° 4.384, de 28 de dezembro de 2018, uma das maiores conquistas para a saúde dessa população, instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani. O documento garante a cobertura e o acesso à saúde para os povos ciganos, de maneira que suas particularidades sejam respeitadas. A saúde sexual e reprodutiva, por exemplo, deve levar em conta costumes como a gravidez na adolescência e o fato de que mulheres de algumas comunidades tem o hábito de se consultar com operadores de saúde do sexo feminino. Ao contrário do que diz o senso comum, ciganos não são necessariamente nômades, e a sedentarização das comunidades têm sido cada vez mais frequentes. Porém, ainda existem comunidades nômades, seminômades ou que ainda não têm documentação que comprove endereço por razões burocráticas. Para esses casos, existe a Portaria nº 940, de 28 de abril de 2011, que regulamenta o Sistema Cartão Nacional de Saúde. Ela não inclui os ciganos nômades na exigência de comprovação de domicílio para o atendimento no SUS. É de extrema importância que todas as unidades de saúde tenham conhecimento dessa portaria e não neguem o atendimento a que esses cidadãos têm direito.
A Lei 6.532/2, de autoria do vereador Otávio Trad, instituiu o Dia Municipal do Povo Cigano, na capital do Estado. A legislação prevê que a data será comemorada no dia 24 de maio, dia dedicado a Santa Sara Kalí, padroeira dos povos ciganos. Em 2006 foi instituído o Dia Nacional do Povo Cigano e houve o reconhecimento da existência do Povo Rom, como os ciganos são chamados, pelo poder público federal como integrantes do processo organizativo do país. São várias contribuições para a nossa cultura, por exemplo o feijão tropeiro (ciganos mineiros), e o charuto. A diferença é que antigamente eles usavam uma trempe de ferro para servir de fogão. De origem cigana, também foi o nosso Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que mesmo em uma reunião importante, sempre que possível tirava os sapatos. Além dele, o Inimitável Castro Alves, um dos maiores poetas do Brasil era cigano Calon. Diziam que seu porte e seu jeito de falar hipnotizava as mulheres e encantava as pessoas que ouviam-no. Seu pai Antônio José Alves, é considerado o primeiro médico cigano do mundo.
Por fim, não obstante, finalizo com um trecho de uma lenda cigana que diz:” É preciso ter em mente que a água nos benze, a lua nos abençoa, o fogo nos consagra, o ar nos liberta e a terra nos transforma. Só assim teremos os pés no chão, os olhos no horizonte e a mente nas estrelas.
*Articulista