Em Porto Murtinho, embarques de soja não ocorrem há quase 50 dias e em Corumbá, escoamento de minério de ferro também foi suspenso.
Por Anderson Viegas e Alysson Maruyama, G1 MS e TV Morena
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/H/Z/dcEADTQOibcWInFMjx1w/porto-porto-murtinho.jpg)
Terminal em Porto Murtinho, no sudoeste de MS, não embarca um grão de soja para a exportação desde 14 de agosto, em razão da falta de navegabilidade no rio Paraguai — Foto: Toninho Ruiz/Arquivo Pessoal
A redução do nível do rio Paraguai, em Mato Grosso do Sul, por conta da pior seca no Pantanal em 50 anos, está paralisando o transporte de cargas pela hidrovia. Em Porto Murtinho, no sudoeste do estado, terminal de escoamento de grãos não faz embarques há quase 50 dias.
Na cidade, o terminal administrado pela Agência Portuária de Porto Murtinho (APPM) não escoa nenhuma carga desde 14 de agosto.
Segundo a APPM, o principal produto escoado pelo terminal é a soja. A commoditie produzida no estado seguia pela hidrovia do Paraguai até a Argentina, onde era processada.
A previsão para 2020 era de que o terminal escoasse cerca de 600 mil toneladas de soja, mas com a interrupção dos serviços, o volume chegou a 31,3% do total, o equivalente a 188 mil toneladas.
De acordo com a APPM, neste ano o porto teve condições de operar por apenas sete meses, entre março e agosto, por falta de navegabilidade para os comboios de chatas que transportam os produtos.
Conforma a agência, quando a situação começou a se agravar, a alternativa encontrada para continuar com o transporte foi a de reduzir o volume de cargas nas chatas.
Barcaças que levavam normalmente 1.800 toneladas de grãos, passaram a transportar somente 80% da capacidade. Quando esse percentual teve de ser reduzido para 50%, a viabilidade econômica da operação foi comprometida e o serviço paralisado.
Nesta quinta-feira, o nível do leito em Porto Murtinho, de acordo com a APPM, marcava na régua de medição do município, 1,29 metros, 2,25 metros abaixo do nível normal para este período.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/D/C/bsycdlREC0lV5lPueqvw/afluente-paraguai.jpg)
Na região de Porto Murtinho, afluentes do rio Paraguai, como rio Amonguijá está sendo tomados por imensos bancos de areia — Foto: Toninho Ruiz/Arquivo Pessoal
A agência projeta que sem um bom volume de chuvas para recuperar o nível normal do leito do rio nos próximos meses, que a operação no próximo ano possa começar ainda mais tarde do que em 2020, sendo iniciada somente em abril ou maio de 2021.
Corumbá e Ladário
Em outro ponto do rio Paraguai, mais ao norte de Porto Murtinho, entre as cidades de Corumbá e Ladário, os bancos de areia formam pequenas ilhas do meio do curso de água. Veja abaixo reportagem do Bom Dia MS falando sobre a situação.
O nível do rio está tão baixo que nesta semana ultrapassou a marca de zero pela régua de medição instalada no porto de Ladário. A última vez que isso ocorreu foi em 1973. Na mesma data do ano passado, era 2,34 metros no mesmo local.
Com o nível tão baixo a navegação se tornou um risco. As barcaças usadas para escoar a produção de minério de ferro estão paradas na margem. Por conta disso, o porto usado para embarcar o produto ficou sem movimento.
Sem condições de usar a hidrovia, algumas empresas estão adotando uma alternativa logística bem mais cara, a do transporte rodoviário.
Se pela hidrovia, em condições normais, haveria condições de levar até 200 mil toneladas de minério de ferro ao mês até os portos da Argentina e do Uruguai, por rodovia para levar o produto até os portos brasileiros essa capacidade cai consideravelmente.
“Para eu conseguir atingir não mais que 30 mil toneladas por mês nós temos que usar 170 caminhões fazendo o transporte e mesmo assim eu não consigo fazer a entrega de todo o volume já contratado”, diz o presidente da mineradora Vetorial, Luiz Nagata.
Os pesquisadores explicam que a situação do rio Paraguai é reflexo da pior seca dos últimos 50 anos no Pantanal.
Para o nível do começa a subir é preciso muita chuva nas nascentes e cabeceiras, que ficam no estado de Mato Grosso, o que não vem ocorrendo.
A Embrapa Pantanal acompanha a situação e a previsão para chuvas mais volumosas é somente para dezembro.
A ferrovia que liga Mato Grosso do Sul a São Paulo, a Rumo Malha Oeste, seria uma alternativa, mas está sem condições de uso. “Seria uma alternativa, mas não pode ser utilizada devido ao seu sucateamento e devido à impossibilidade dela operar com o transporte de minério de ferro neste momento. Mas, estamos trabalhando fortemente junto ao governo federal para que seja relicitado e os investimentos retomados, de modo a tornar uma ferrovia que seja utilizado para exportação de minério”, diz o secretário estadual de Meio Ambiente, Produção e Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck.