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João do Rio por Rosildo Barcellos

João do Rio  por                                                     Rosildo Barcellos
Recebi dia 11 próximo passado o Prêmio “100 Melhores Poetas da Lingua Portuguesa “ em Paraty/RJ durante as atrações da feira literária internacional 2024. E este prêmio motivou-me a falar sobre o cronista prolífico, autor de romances, ensaios, contos, peças de teatro, conferências sobre dança, moda, costumes e política. Um dos autores mais importantes do início do século XX no Rio de Janeiro: João do Rio, pseudônimo  de Paulo Barreto (1881-1921), que foi  o autor homenageado da 22ª edição da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty,  celebrada de 09 a 13 de outubro .
 João do Rio enveredou no período de 1900 a 1921 por praticamente todos os aspectos da vida da  então Capital Federal. Subiu o morro, visitou favelas frequentou terreiros de candomblé e macumba, não esquecendo as rodas de samba, cabarés e coxias de teatro. Assistiu as reformas urbanas do prefeito Pereira Passos que modificou o centro da capital, guardadas as proporções, como fez Marquinhos Trad na capital morena do nosso Mato Grosso do Sul.
   João escreveu sobre as condições desumanas do trabalho operário da mesma forma que retratou as classes dominantes, políticos e socialites, demonstrando posições libertárias ao voto feminino, sendo um dos poucos intelectuais que evoluiu financeiramente com seu trabalho na imprensa e na literatura. Não me recordo de algum jornalista antes ou depois dele com tanta mobilidade social com condição de em alguns assuntos dar prazer de leitura para leigos e em outras mesclar seu rebuscado estilo “art nouveau’  com o humor e a ironia. Sua importância no jornalismo brasileiro é incontestável, tano que em seu funeral estavam presentes cem mil pessoas (em 1921 seria um quarto da população da cidade). João Paulo Alberto Barreto, conhecido mais pelo pseudônimo de João do Rio, nasceu no Rio de Janeiro no dia 5 de agosto de 1881. Foi filho de mãe mulata1 (Dona Florência) e recebeu educação do pai (Coelho Barreto), que era branco, professor de mecânica e astronomia no Colégio Pedro II, e também positivista ortodoxo. Nessa época, o Rio fervia em prol da campanha abolicionista com os comícios inflamados de José do Patrocínio.
  Em 1910, aos 29 anos, foi escolhido como membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a vaga deixada pelo poeta Guimarães Passos. Posteriormente, foi redator e colaborador no periódico O País. Em 1920, Paulo Barreto criou o jornal diário e matutino A Pátria, sediado no Rio de Janeiro, e o liderou até 1921, ano de sua morte. Na noite de 23 de junho, ao sair da redação e retornar para casa, ele faleceu de forma repentina dentro de um táxi na esquina das ruas Pedro Américo e Bento Lisboa, no Catete.Constâncio Alves, seu sucessor na Academia Brasileira de Letras, ao assumir a cadeira, comentou que o excesso de trabalho foi o responsável pela sua morte. Aliás sobre as morte gostaria de contar uma particularidade o homenageando cronista da FLIP 2024 só perdeu em número de pessoas em seu enterro, para aquela que, em 1912, reverenciou o Barão do Rio Branco. Curiosamente, o mesmo homem que, em 1902, lhe fechou as portas da carreira diplomática por achar que aquele jovem pobre, mestiço não servia para o Itamaraty. No dia de sua morte João do Rio saindo da redação de seu jornal, seguia para Avenida Vieira Souto, em Ipanema. Ele não estava se sentindo bem, tinha se aborrecido com uma série de coisas ao longo do dia. No caminho, o mal estar piorou  e ele pediu para o motorista parar e lhe conseguir um copo de água. Quando o taxista voltou, já era tarde: seu passageiro havia sofrido um derrame fulminante. Mas quem estava morto no banco de trás daquele Studbaker preto não era apenas o jornalista João Paulo Emílio Christovan dos Santos Coelho Barreto  mas sim o cronista, repórter, escritor, dramaturgo e tradutor João do Rio, o nom de plume pelo qual Paulo Barreto se tornou imortal através das palavras que escreveu.
*Articulista  com 1543 artigos publicados, discreteando sobre a  vida,  obra, amores e o legado de personalidades culturais. Membro Imortal da AILAP – “Academia Internacional de Literatura e Artes Poetas Além do Tempo”
**Na foto a fachada da casa aonde morou João do Rio. Ao fundo o morro do Corcovado em Ipanema Rio de Janeiro – Acervo IMS  
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