Leitos de UTI no SUS passaram de 369 para 418 no estado. Disparada de casos e óbitos, porém, preocupam. “Não vamos frear a curva apenas abrindo leitos”, afirma infectologista Mariana Croda.
Por João Pedro Godoy, G1MS
O estado de Mato Grosso do Sul aumentou, no período entre os dias 1° e 28 de julho, os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Sistema Único de Saúde (SUS) em mais de 13%, para lidar com a pandemia do novo coronavírus. A ocupação dos leitos, porém, continua alta no estado, já que no mesmo período os casos de Covid-19 dispararam, aumentando em 158%.
De acordo com os boletins epidemiológicos da Covid-19, divulgados diariamente pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), no dia 1° de julho, o estado tinha 8.676 casos do novo coronavírus, com 85 óbitos em decorrência da doença. Ainda segundo o boletim, eram 670 leitos clínicos no SUS, com 20% de ocupação.
Já sobre os leitos de UTI também do SUS, a macrorregião de Campo Grande possuía 212, com 69% de ocupação, a de Dourados 102, com 61% de ocupação, de Três Lagoas 35, com 54% de ocupação e Corumbá 20, com 70% de ocupação.
Novos leitos de UTI foram instalados no Hospital Universitário (HU) Maria Aparecida Pedrossian, em Campo Grande (MS) — Foto: SES/Reprodução
Pouco menos de um mês depois, no dia 28 de julho, o estado recebeu mais 49 leitos de UTI distribuídos em todas as macrorregiões, um aumento de 13%. O número, no entanto, foi pequeno se comparado aos casos de Covid-19, que, conforme o boletim desta terça-feira, saltaram para 22.443 no período, um aumento de mais de 158%. O crescimento também se reflete no aumento de óbitos, praticamente quadruplicado, com 328. O estado registra em julho em média 1 morte por Covid-19 a cada 2,8 horas.
Com isso, mesmo com o aumento de leitos, a ocupação deles continua crescendo no estado. Nesta terça-feira (28), a SES afirma que possui 710 leitos clínicos existentes para covid, com ocupação de 35%. Já no caso dos leitos de UTI, a situação mais preocupante é na macrorregião de Campo Grande, que recebeu 22 leitos nos últimos 28 dias, com 234, mas enfrenta 96% de ocupação.
Até esta terça-feira, Dourados registrava 107 leitos, com 63% de ocupação, Três Lagoas 55, com 42% de ocupação e Corumbá 22, com 82% de ocupação. De acordo com Mariana Croda, infectologista e membro do Comitê de Operações de Emergências (COE) da Secretaria de Estado de Saúde, o aumento de leitos é uma medida válida, mas não resolve a situação.
“Estagnamos numa alta curva, principalmente de mortalidade. Muitas pessoas são infectadas pela Covid-19, muitas precisam de UTI e muitas acabam morrendo. Não vamos frear a curva apenas abrindo leitos”, afirma Croda. De acordo com a infectologista, o ideal para frear esse crescimento seria aumentar as taxas de isolamento, que demorariam de duas a três semanas para serem efetivadas, mas diminuiriam as taxas de internação e de necessidade de UTI neste prazo.
Infectologista Mariana Croda — Foto: Redes Sociais/Reprodução
Croda ainda aponta erros de condução nas políticas públicas contra a pandemia. “O que é mais contraditório nesse cenário é manter comércios e outros locais abertos. Temos alta taxa de ocupação de leitos, deficiência na testagem, falimos o sistema de saúde, por não conseguirmos mais monitorar todos os contatos e casos confirmados. No nível hospitalar, também temos emergências e alas de internação clínicas lotadas. Olhando como um todo, a política adotada, sobretudo pelo município de Campo Grande, é contraditória às recomendações que adquirimos com outros estados e países”, alega.
Na capital sul-mato-grossense, o índice de isolamento social ficou em 37% na última segunda-feira (27). O ideal seria de 70%. Para a infectologista, o número também é resultado da falha da administração municipal. “Não podemos colocar toda a responsabilidade na falta de conscientização da população. Há a necessidade de conscientização dos gestores públicos em adotar medidas mais restritivas que consigam fazer com que a população possa aderir e permanecer em casa”, finaliza.