Com 280 quilômetros de extensão, Rio Perdido se transformou em um caminho de terra na cidade de Caracol (MS). Produtores da região dependem do abastecimento de caminhões-pipa até para beber água.
Por Rafaela Moreira, Thalyta Andrade, g1 MS e TV Morena — Mato Grosso do Sul
O Rio Perdido, uma das bacias que corta o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, em Caracol (MS), secou e virou um “deserto de areia”. O motivo do assoreamento é a estiagem severa que atinge todo o Mato Grosso do Sul (veja o vídeo acima).
Com 280 quilômetros de extensão, o Rio Perdido está seco no município que fica a 394 quilômetros de Campo Grande, e onde não chove há mais de 40 dias. Produtores rurais da região estão dependendo do abastecimento de caminhões-pipa para manterem as propriedades, e até para consumirem água no dia a dia.
Há relatos de moradores que encontraram peixes mortos onde antes ficava o leito do rio. Em julho do ano passado, o cenário do rio era completamente diferente.
Há pouco mais de 500 km de Caracol, o Pantanal está sendo devastado pelos incêndios antecipados, outro reflexo da estiagem que atinge o estado. Uma área quase quatro vezes maior que o território da cidade de São Paulo já queimou no bioma – mais do que em 2020, até então o ano recorde de queimadas no Pantanal.
Moradores sem água
À reportagem, moradores relataram que, em julho do ano passado, em um dos trechos do Rio Perdido, a altura da água chegava a medir aproximadamente 1 metro e 60 centímetros.
Segundo especialistas, a região está há quase quatro meses em estiagem extrema. A situação na cidade de Caracol fez com que 10 pequenos produtores dependessem do abastecimento de caminhão-pipa para permanecerem em suas propriedades.
O produtor rural Ênio Godoy, tem uma propriedade na região há 56 anos e diz que nunca viu uma situação semelhante. Ao g1, ele conta que a estiagem e a possibilidade de incêndios na região assustam os moradores.
“Estou aqui há anos e nunca vi isso e nem na época do meu pai, ele nunca viu. É a primeira vez que vejo o rio parar de correr, secar mesmo. O fogo é muito prejudicial, principalmente para a fauna e flora. Para as pessoas que trabalham com gado é muito perigoso essa situação”.
O Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS) apresentou um balanço relacionado ao acumulado das chuvas no estado durante maio deste ano. Na análise do número de dias com chuvas abaixo de 1 mm, foi constatado que grande parte dos municípios apresentaram mais de 25 dias sem ocorrência de chuvas ao longo de todo mês de maio.
Apesar da estiagem extrema contribuir para a seca, os problemas no Rio Perdido são antigos. Desde 2019, o Instituto do Homem Pantaneiro (IHP), alerta sobre a drenagem das águas e o risco de assoreamento na bacia.
O operador de drone do IHP, Lauro Kesley, monitora a área há anos e tem se surpreendido com as transformações que o rio tem sofrido nos últimos meses. “A seca está muito grande, a área rural está tendo desbarrancamento, o que tem secado vários brejos e nascentes”.